5ª FEIRA DA ASCENSÃO - "DIA DA ESPIGA"
5ª Feira da Ascensão – Dia da Espiga
Longe vai o tempo em que o dia era guardado como dia Santo e se ia até ao campo “apanhar a Espiga”, que dependendo da região do país, é de um modo geral composto por pés de trigo, centeio, cevada, um ramo de oliveira, outro de videira, papoilas, malmequeres, um pouco de alecrim e outras flores campestres.
Recordo-me com saudade de ir pelos campos que rodeavam a nossa casa, de mão dada com o meu pai, apanhar o nosso ramo ao qual a minha mãe adicionava em casa, um “papo-seco” com uma moedita de tostão lá dentro e atava tudo com “fio do norte”, para pendurar atrás da porta da cozinha.
Ali se conservava todo o ano e sempre me interroguei porque é que quando seco não se deitava fora. Nunca me explicaram convenientemente. Era assim porque era!
Nunca me contentei com a resposta e sempre curiosa em “saber o porquê das coisas”, vim anos mais tarde a saber que era tradição conservá-lo todo o ano até ser substituído por um novo, para que em casa nunca faltasse nem o pão nem o dinheiro.
Anos passados, vim a saber o significado de cada elemento que compõe a “Espiga”, sendo que o trigo, o centeio e cevada representam o pão; o malmequer, o ouro e a prata; a papoila, o amor e a vida; a oliveira, o azeite e a paz; a videira, o vinho e a alegria e ainda o alecrim a saúde e a força.
Quando casei, levei comigo esta tradição aprendida com os meus pais, e passei-a aos meus filhos mais velhos, com quem ainda fui à Espiga alguns anos, enquanto a desenfreada construção de grandes prédios, não “comeu” literalmente os belos campos que rodeavam a velhinha “Parede” que acabava não longe da nossa casa, bem perto do antigo Rádio Clube Português, dando lugar à nova, enorme e bonita vila que hoje é.
Claro que os meus filhos, como “homens” que são, mais virados para o lado prático da vida, nunca ligaram muito à tradição.
Mas juntaram-se novas mulheres à família e entre nós, todos os anos compramos os ramos da “Espiga”, que agora são vendidos no mercado local ou nas ruas da cidade e assim continuamos com a velhinha tradição legada pelos meus pais.
Em Lisboa, neste dia a cidade é mais alegre pois mantêm-se as vendedeiras da Espiga, que com os seus cestos se colocam em locais estratégicos, por norma à porta das várias Igrejas.
No Chiado, Rossio, Restauradores e Ruas da Baixa, são neste dia, muito fotografadas pelos turistas que se deliciam com o colorido dos ramos e com as vozes que cantam oferecendo-se para vender o raminho que mantém viva a tradição.
Embora se sinta que a “tradição já não é o que era”, na 5ªfeira da Ascensão, o Dia da Espiga ainda se mantém.
Falta o encantamento de ir apanhá-la aos campos, mas contra os gigantes de cimento armado, nada feito! Os campos agora estão longe e são os comerciantes do mercado que as recebem já prontinhas para vender. Do mal, o menos… Que a “Espiga” nunca nos vá faltando, para nos alimentar a esperança de que durante mais um ano, o pão não nos faltará.
Que a “Espiga” ou mesmo só a sua lembrança, não falte em nenhum lar por mais humilde que seja, pois o importante afinal não é tê-la realmente, mas continuar a Acreditar no seu significado, não perdendo a Esperança no Amanhã por mais sombrio que ele nos possa parecer, entregando-o nas mãos de Deus com a maior Fé, para que "ELE" sempre provenha ao sustento de cada um, sobretudo dos mais necessitados.
6 Comments:
Obrigada pela tua partilha, Fátima. Beijos.
Desculpe-me incomodá-lo, Pássaro!
Mas li sobre flores campestres e festas tão lindas que me encantei com tudo...
Beijo carinhoso!!!
Emocionei-me com seu depoimento em palvras que me conduziram em reflexão e ao mesmo tempo estimulo ao ego que no artista sempre é um pouco mais acentuado embora me considere mais um transformador transformado do que outra coisa qualquer... afinal o artistas me consideram artesão que por sua vez me imaginam designer que muitas vezes nem sabem definir este de tudo um pouco que faço (vide http://eduardomiguelpardo.blogspot.com) assim sendo vou seguindo me apoiando em minha ideologia de só trabalhar com o que outros jogam, descartam ou não mais usam, se é lixo ou não nem quero saber mas enquanto puder aproveito até a poeira das madeiras (vide http://etusverde.blogspot.com) quero aproveitar para agradecer sua visita e palavras que me emocionaram lá e aqui também seu blog ainda é um mistério que irei desvendando aos poucos como quem quer aos poucos aprecia-lo devagar e intensamente!!!
Do Brasil meus respeitos e um grande abraço, sucesso.
Pássaro Azul, não se passa nada com o farol. Ele continua exactamente onde o construiram e, não obstante a tempestade o fustigar, ele mantém-se ileso. Também continua a cumprir a sua missão. Faça vento ou chuva, ele lá está para servir sem se importar com o frio ou com a falta de conforto...
Quanto ao Faroleiro querida amiga, imagine aquele velho marinheiro que depois de se reformar, não deixa passar um dia que não se dirija à falésia para observar o mar. Imagine-o com a mão em concha sobre os sobrolhos para melhor observar o horizonte. Que pensará o marinheiro nesses momentos? O que passará na sua mente?
Ainda é cedo para o Faroleiro se retirar. Apenas estou à procura do sentido do que vivi, para nele, ganhar as forças necessárias para continuar.
Um dia, tal como o marinheiro, quero obervar o horizonte pela janela da vida, com o sentimento de que valeu a pena...
Desculpe as metáforas.
Fique bem!
PS-Como este apontamento não se trata dum comentário ao seu "post", gostaria, se assim o entender, que o apagasse. Apenas lhe escrevi neste sitio porque não tenho o seu e-mail...
Leio agora com mais vagar sobre essa preciosa tradição da Espiga. Essa relação do cereal com os movimentos da vida também ocorre aqui e vem de longe, até da Grécia com a deusa Ceres.
Lindíssimo seu texto!!!Bjs
Aqui na temos o dia da espiga, mas temos as ilhas belas e mágicas, ou encantadas, e o Pico tem magia no cheiro e na gente da ilha.Beijinhos
Enviar um comentário
<< Home