DE UM "PICAROTO" COM SAUDADE
É desta fabulosa Ilha do Pico, que guardo os melhores amigos, as melhores imagens e tão boas recordações.
As paisagens verdes dos campos e montes, salpicadas de branco aqui e ali por entre as tradicionais casas de pedra vulcânica, com os seus muros da mesma pedra sobre pedra que a tudo tem resistido, e o seu mar imenso de um azul indescritível, são realmente inesquecíveis.
Mas as suas gentes, ah, as suas gentes, são um bem maior.
E foi aqui, no Continente que tive o privilégio de conhecer um "Picaroto" que tanto admiro e me merece a maior estima e consideração. Em resposta a um PPS que lhe enviei, respondeu-me de um jeito saudoso da sua terra, das suas gentes, dos tempos da sua infância longinqua mas com uma autenticidade que não resisto a partilhar convosco, depois de ter obtido sua devida autorização.
Deliciem-se com o texto que transcrevo completamente:
"Minha boa amiga
Gostei muito de ler a sua mensagem.
Eu sou duma ou duas décadas atrás.
Nascia-se em casa e era-se alimentado pelo leite de duas cabras que meu pai criava.
Começava-se a comer bolo de milho muito cedo, queijo que minha mãe fazia com o leite das ditas e peixe que o meu pai ia apanhar à costa: sargos, peixe-reis, prombetas, salemas. Carne de vaca só entrava em casa pelas festas e as galinhas duravam cinco seis anos e coziam durante uma semana. Davam canja todos os dias. Ao fim, de semana comia-se a carne. Couves solteiras, nabos, batata doce no Inverno e batata branca no Verão. Em Janeiro matava-se o porco e até Maio as couves eram casadas com o conduto.
Sapatos ,só ao domingo para ir à missa. Para andar nas vinhas eram as alparcas. De resto, era descalço.
Quando se adoecia, entrava a farmacopeia de minha avó: hortelã, nêveda, orego, salsa, poejo, sabugueiro, mantrasto, marroio, arruda, tamujo, bálsamo de canudo e de folha, macela, cidreira, folha de laranjeira, etc, etc. O médico só vinha quando o caso estava mal parado e receitava :biolactina, sulfatiazol, sulfaguanidina, xaropes e pomadas. Não havia antibióticos. Uma paratifoide levava dois meses a curar.
Éamos nós que fazíamos os nossos brinquedos: os piões, as bilhardas, as bicicletas de madeira, oos carros de manivela, as bolas de trapos, os barcos, os botes e as lanchas da baleia, os moinhos de cana e de tremoço, as flautas, os estalos de sabugueiro e casca de laranja, os violinos de cana de milho... Ninguém brincou tanto como nós.
Rádio só havia o do Sr. Padre a baterias carregadas com um aerodínamo.
A luz eram candeias acesas com oleo de baleia ou de gata e , para a sala de fora, havia um candeeiro a petróleo.
E chegámos aos setenta, graças a Deus. Com paz e saúde.
Um abraço do velho amigo
Renato Ávila"
Que maravilha de prosa! Que poder descritivo! Que autenticidade! Uma maravilhosa viagem no tempo por aquela Ilha Encantada.
Bem-haja meu Amigo.
10 Comments:
Tem razão. Também gostei da descrição. Contida. Limpa. E há autenticidade, sim. Própria da segurança de quem sabe e entende.
Bem. Eu também sou de uma ilha. Não cercada desse mar de ondas que lhes dá condição. Mas isso é outra história.
Gostei partiularmente - e por uma questão de egoísmo -, do parágrafo dos brinquedos. Nem sempre eram aqueles. Mas eram um tratado de perícia e meditação. Falo em especial dos que cada um fazia, ou negociava com os amigos a troco de outros produtos, sempre que os mais apetecidos tinham fantasia.
Por que vim aqui? Alguém me falou de forma indirecta numa "ilha encantada". E eu vim espreitar. Só o primeiro texto.
Você é pássaro? Azul?
Tenha uma boa semana.
Fale sempre de mansinho quando falar de horizontes que nos moldaram o olhar. Não acontece com todos. Mas quando isso acontece fica-se com um olhar diferente: vasto e desmedido; aguçado e sentido; para dentro e para fora; para o tempo e para a gente.
A verdade está em si nas palavras que dedica ao texto que transcreveu. A descrição ganha força na contenção que em si tem, e na dignidade austera com que que passa pelo tempo, afagando-o real, sem lamentos desconexos.
Eu vou tomar a ousadia de destacar o parágrafo que fala sobre os brinquedos. Não cheguei a conhecer alguns dos que lá estão; mas havia vários outros. Era uma animação, no fazer e no brincar, e nos negócios das trocas, em que o valor maior era a técnica do fazer e a arte do imaginar.
Como vim aqui parar? Sugeriram-me que havia por aqui uma ilha encantada. E quando me falam de encantos, gosto sempre de ir espreitar. Ficou-me o gosto dos montes, e também daquelas fontes onde há mouras encantadas. Por isso eu vim procurar, e encontrei este primeiro texto.
Agora que vou sair, gostaria de duizer-lhe que tudo o que tem encanto é meu. Mesmo que o não seja. Tenha cuidado, pois, que ainda lhe roubo estas ilhas.
Gostei de passar por aqui.
Tenha uma boa semana.
Acabei de mandar-lhe mesmo agora um segundo comentário. Já tinha escrito um ainda pela manhão. Como não o vi aqui, pensei que tinha feito asneira, como muito me acontece, quando mando publicar. Ora, só agora eu vi que esses meus comentários precisam de aprovação. Veja a minha distracção.
Digo-lhe isto para que perceba por que é que acabou não com o abuso de um, mas com a impertinência de três. Três comentários, claro. Como vê, sou excessivo.
Desculpe lá a confusão.
Olá,
Há mudanças no meu blog. Gostava muito se fosse visitá-lo para ler a mensagem do 11 de Fevereiro.
Obrigada
Beijinhos verdinhos
Olá Passáro AZUL
Voltei do Rio e já tinha saudades!
Sempre positivo pode ler coisas sensacionais no seu blog.
Valeu!!!!
Bjnhs
Cristina
Olá Passáro AZUL
Voltei do Rio e já tinha saudades!
Sempre positivo pode ler coisas sensacionais no seu blog.
Valeu!!!!
Bjnhs
Cristina
amiga fatima
Há muito que não sei onde haja atuações do coro ecce gratum, onde andam?
tambem gostava do favor de uma outra informação:Como sei que é psicologa e que não fez o curso quando jovem gostaria de saber onde o poderei fazer tambem, agora que estou reformada e para dar realização a um sonho antigo.
Muio obriga.Passo muitas vezes pelo seu blog que é muito refrescante. flor do deserto
Pelo maravilhoso texto, só te posso dizer que a sua divulgação como homenagem é totalmente merecida.
Ainda há pessoas que viviam de uma forma que aos nossos olhos hoje parece impossível, mas que é bem verdadeira. Tenho a certeza que quem viveu assim de uma forma tão autêntica foi muito mais feliz do que será esta geração que agora nasce com tudo à sua disposição, e que acabam por se tornar em eternos insatisfeitos, e que por isso vão viver sempre infelizes, sem conhecerem a essência da verdadeira felicidade que está nas coisas simples da vida.
Bjs.
Olá Pássaro Azul,
Sinto a sua falta là nos ensaios do coro, falta-me a sua doce voz ao lado da minha. Espero que a recuperou e que voltará rapidamente para o meu lado.
Deixo-lhe uma mensagem de amizade :
"Olá...
Foi aqui que encomendaram?
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|...............*AMOR*...........|||“|““__
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|............*CARINHO*.........|||“|““_
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Entrega feita!
Participa na campanha FAZ UM AMIGO FELIZ!!!
Manda esta encomenda p/ todos os teus amigos.
Espero estar incluído nessa lista........
Vou fazer outra entrega ..."
Beijinhos verdinhos
Gostei muito, voltei a ser criança porque também sou PICAROTO.
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