Há Dias...
Há dias, a convite de um amigo, resolvi quebrar a minha rotina, sair do meu canto e acompanhá-lo na sua viagem de trabalho.
Eu adoro viajar!
O sonho começa logo quando o meu espírito interioriza essa palavra mágica “viagem”, e eu me ponho a fazer a mala.
Foi agradável, bastante agradável mesmo!
A viagem decorreu sem incidentes e a chegada ao hotel foi como ancorar num porto de abrigo.
Há sempre uma certa mística em cada local de paragem, naquele que escolhemos para deixar o nosso cansaço e repousar os nossos sonhos.
Posto isto, saímos um pouco à descoberta da noite desta cidade.
Subimos e descemos ruas estreitinhas, salpicadas aqui e ali por escadas, certamente com muitas histórias para contar.
As ruas fervilhavam de gente que anónima se cruzava e partilhava a alegria de viver.
A noite é sempre mágica e deixámo-nos envolver por essa magia.
À primeira luz da manhã, depois de um sono reparador e de um reconfortante pequeno-almoço, ele partiu para o seu trabalho e eu, felizarda desta viagem, parti à descoberta de cada coisa nova que me pudesse surpreender, com a expectativa que sempre me envolve nestes momentos:
- Conhecer melhor uma nova cidade.
Os raios do Sol brindavam este novo dia com o seu beijo matinal, e eu deixei-me beijar.
Mas aos poucos, o beijo virou um abraço intenso que me envolvia e queimava e, num deslizar de mansinho, atravessei a rua sob o seu olhar atento, sem me deixar envolver.
A sua sombra era mais benéfica para mim. Ele compreendeu e continuou a brilhar.
Prossegui então, parando aqui e ali na minha constante observação mas, quanto mais para o centro da cidade me dirigia, maior era a dificuldade em relação à língua deste país.
Os sons que chegavam até mim eram invariavelmente em alemão e inglês. Ocasionalmente, um ou outro em francês.
Os dois últimos deixavam-me participar um pouco no “social” das gentes que comigo se cruzavam.
Apesar deste incómodo com a língua, voltei a subir e descer ruas lindas, estreitinhas, com alvas casas e escadas cujos degraus brilhavam nas pedras polidas pelos passos de tantos séculos.
Na noite anterior, estavam cheias de restaurantes, pequenos bares, cafés e esplanadas que, vencidos pelo cansaço tinham adormecido quando as gentes que lhes davam vida foram dormir também.
Como era cedo, tive o privilégio de assistir ao lento recriar da vida novamente nesses locais.
A pouco e pouco, a vida estava pronta para voltar a acontecer.
Recolocavam-se os “souvenirs”, os pequenos “note-book”, os postais ilustrados com paisagens locais lindíssimas onde se lia, “Thinking of you”, “With love”e “Just for you”.
Os jornais diários dos diferentes países, também lá estavam desde o “Times” ao “Daily Telegraph”, do “The Irish Times” ao “Le Fígaro”.
De Portugal, não havia nenhum! Senti como num país estrangeiro a nossa imprensa diária não tem qualquer expressão!
Com o passar da manhã, iam aparecendo pelas ruas as bonitas toalhas de mesa e as ementas diárias em grandes cartazes, bem como as ofertas para passeios turísticos locais, salpicando a cidade de cor. Mas, escolher o quê?
Como estava num país da Europa comunitária, os preços pelo menos eu compreendia. A moeda única para estas viagens dá imenso jeito!
E uma língua única? Fantástico! Tinha sido preciosa neste país por onde viajei.
Se não… vejam:
- Das ementas, esta era talvez a mais acessível ao meu conhecimento linguístico:
· Carrot Soup
· Stuffed Squid
· Roast Pork Loin
· Meat Veal with Garlic
- Dos passeios turísticos, algo depreendi… o mar deve ter cavado belas grutas nas rochas:
· Grotto Trip/Cruises
· Bootsfahrt
· Groottenbesichtigung
- E ainda:
· Free trips
· Sail on the Catamaran – Ask for details inside bar.
Mas, acreditem que a cidade é linda e vale a pena ser visitada. Tem história, muita história que eu ouvi contar, em inglês e alemão, claro, aos imensos grupos turísticos que por lá passeavam.
Tive imensa pena de me sentir tão “estrangeira” no meio dela mas, são as contingências de quem viaja para fora do seu País.
Apesar de tudo isto, o dia não deixou de ser magnífico! Acabei por encontrar uma esplanada com um nome português…”Taquelim Gonçalves”.
Ali, na Marina, frente aos barcos onde viajam sonhos e embarcam fantasias.
Valeu a pena! Sentei-me e é nessa esplanada que vos estou a escrever.
O serviço é óptimo. A tosta mista que pedi está deliciosa e, o sumo de laranja natural é mesmo natural!
Tem um ambiente óptimo, e a lista também está em português! Quando vierem até cá, não deixem de visitar!
Ah! Uma preciosa informação para cá chegar! A cidade linda de que vos falei, chama-se LAGOS e o país, acreditem, é PORTUGAL!
7 Comments:
Este texto pelo seu conteúdo e pela sua forma atraiu-me. E o melhor que te posso dizer, é que gostava de o ter escrito, no masculino, claro…
Espero que gostes do “doente de Amor” que escolhi como fundo musical…
Beijocas,
Pois, arrepiei-me, a música ajudou, mas está muito bem escrito o teu texto, e no final, quando dizes que estavas em Lagos, sinceramente, sentirmo-nos estrangeiros no nosso próprio país é no mínimo deprimente!! Só mesmo neste país, um português se consegue sentir estrangeiro... É uma verdadeira tristeza!! No more comments!! Um atraso de vida!! Beijinhos para ti, é um texto muito bonito e real, infelizmente.
Uma voltinha ao estrangeiro? Portugueses? Só turistas. Os outros comessaram por vir passar férias cá, hoje são quase os donos de tudo. Nós embarcámos nas naus do Infante e fomos fazer turismo para fora. Como os turistas portuguese estão a aumentar, penso que vão ter uma escola para ensinar o português aos nativos, pois o inglês só agora está a entrar nas nossas escolas.
Um beijo. Augusto
Olá,
Descreves esta viagem de tal forma que me senti ao teu lado.
De facto é pena sentirmo-nos estrangeiros no nosso país, mas eu adoro Lagos!
Beijokas
Olá,
Hoje passei só para te agradecer a visita ao meu cantinho de pensamentos e sentimentos...
Também volto com mais calma...
Beijo
Gostei muito desta tua prosa. Muito bem escrita e plena de ironia e...suspense. Que seria no Algarve, percebi depressa. Mas qual a cidade? Só quando tu a revelaste.
Obrigado pela tua visita ao meu blog e pelo que lá deixaste escrito.
Naturalmente que a telenovela (eh eh) vai ter continuação.
Já tenho mais dois episódios escritos mas tenho de ser parco a postar, caso contrário não tenho ritmo para produção em massa.
E convém manter um certo suspense...como tu fizeste...eh eh
Jinhos
Acredito, pois! Eu andei lá por perto!
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