GLICÍNIA
É curioso como um
simples odor teu, tão leve, tão subtil, tão doce, me consegue transportar lá
tão atrás no tempo.
Era ainda menina, tinha
começado a andar e descobri-te ao fundo do jardim, bem encostadinha às grandes
escadas que eu não deveria subir...
Mas tu, cresceste
agarrada a elas e formaste lá no cimo o mais belo recanto do terraço que eu
ainda não tinha descoberto.
Se tu conseguiste
subir, eu conseguiria também. Deve ter sido o que pensei.
Foi então que devagarinho,
em pequenos paços, subi um a um todos os degraus daquela escadaria com dois
pisos e com um patamar no meio.
Lá em cima, nem eu
sabia que tinha vencido uma grande batalha da minha pequena vida.
Olhei admirada e tudo
cá em baixo, me pareceu tão pequenino!
Dali, dominava todo o
jardim, podia correr no terraço e olhar o mundo mais alargado que na altura me
era dado conhecer.
Duas ruas que se
cruzavam, um pinhal e meia dúzia de casas grandes com seus jardins verdejantes
e muito floridos.
Fiquei extasiada
perante tanta beleza. Mas ainda mais belos eram os cachos da glicínia que
cobriam o caramanchão ali colocado para ser o recanto mais encantador para mim,
a partir daquele momento.
Os anos passaram, e aquelas
tardes calmas envolta pelo teu perfume duraram e ficaram para sempre em mim.
Anos passaram, nunca te
esqueci nunca, e logo que comprei uma casa minha, fiz questão de ter aqui
comigo uma irmã tua, que veio pequenina, subiu á minha varanda e espreguiçou-se
por ela, brindando-me em cada ano com os seus adoráveis cachos, o seu doce
perfume, e a sua côr lilás tão suave e bela.
Ainda hoje, com um
jardim tão cheio de rosas de várias cores, camélias, hibiscos, estrelícias,
narcisos, lírios roxos, jarros, cravos, sardinheiras, hortênsias e duas enormes
buganvílias, és tu a rainha do meu mundo e só tu me fazes voltar atrás no tempo
e sentir a imensa felicidade desses meus tempos dourados da infância e de
juventude.
Sempre serás a minha flor
preferida.