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domingo, fevereiro 10, 2008

DE UM "PICAROTO" COM SAUDADE





É desta fabulosa Ilha do Pico, que guardo os melhores amigos, as melhores imagens e tão boas recordações.


As paisagens verdes dos campos e montes, salpicadas de branco aqui e ali por entre as tradicionais casas de pedra vulcânica, com os seus muros da mesma pedra sobre pedra que a tudo tem resistido, e o seu mar imenso de um azul indescritível, são realmente inesquecíveis.

Mas as suas gentes, ah, as suas gentes, são um bem maior.

E foi aqui, no Continente que tive o privilégio de conhecer um "Picaroto" que tanto admiro e me merece a maior estima e consideração. Em resposta a um PPS que lhe enviei, respondeu-me de um jeito saudoso da sua terra, das suas gentes, dos tempos da sua infância longinqua mas com uma autenticidade que não resisto a partilhar convosco, depois de ter obtido sua devida autorização.

Deliciem-se com o texto que transcrevo completamente:

"Minha boa amiga

Gostei muito de ler a sua mensagem.
Eu sou duma ou duas décadas atrás.
Nascia-se em casa e era-se alimentado pelo leite de duas cabras que meu pai criava.
Começava-se a comer bolo de milho muito cedo, queijo que minha mãe fazia com o leite das ditas e peixe que o meu pai ia apanhar à costa: sargos, peixe-reis, prombetas, salemas. Carne de vaca só entrava em casa pelas festas e as galinhas duravam cinco seis anos e coziam durante uma semana. Davam canja todos os dias. Ao fim, de semana comia-se a carne. Couves solteiras, nabos, batata doce no Inverno e batata branca no Verão. Em Janeiro matava-se o porco e até Maio as couves eram casadas com o conduto.

Sapatos ,só ao domingo para ir à missa. Para andar nas vinhas eram as alparcas. De resto, era descalço.
Quando se adoecia, entrava a farmacopeia de minha avó: hortelã, nêveda, orego, salsa, poejo, sabugueiro, mantrasto, marroio, arruda, tamujo, bálsamo de canudo e de folha, macela, cidreira, folha de laranjeira, etc, etc. O médico só vinha quando o caso estava mal parado e receitava :biolactina, sulfatiazol, sulfaguanidina, xaropes e pomadas. Não havia antibióticos. Uma paratifoide levava dois meses a curar.
Éamos nós que fazíamos os nossos brinquedos: os piões, as bilhardas, as bicicletas de madeira, oos carros de manivela, as bolas de trapos, os barcos, os botes e as lanchas da baleia, os moinhos de cana e de tremoço, as flautas, os estalos de sabugueiro e casca de laranja, os violinos de cana de milho... Ninguém brincou tanto como nós.
Rádio só havia o do Sr. Padre a baterias carregadas com um aerodínamo.
A luz eram candeias acesas com oleo de baleia ou de gata e , para a sala de fora, havia um candeeiro a petróleo.
E chegámos aos setenta, graças a Deus. Com paz e saúde.
Um abraço do velho amigo
Renato Ávila"

Que maravilha de prosa! Que poder descritivo! Que autenticidade! Uma maravilhosa viagem no tempo por aquela Ilha Encantada.

Bem-haja meu Amigo.