Ao comemorar-se mais um ano sobre a data (1857) em que as bravissimas operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve contra a injustiça dos seus salários desiguais, eu quero lembrar outras tantas mulheres anónimas que ao longo dos séculos foram "em silêncio" grandes MULHERES, sem ninguém falar delas.
Quais as razões complexas que fizeram com que essas vidas de luta tenham permanecido na sombra?
Consta que na Idade Média já se contavam tecelãs inscritas em "sindicatos" da altura.
Em todas as épocas, mulheres cultas escreviam, debatiam e influenciavam o seu meio.
Onde está a história dessas mulheres que tomavam conta de bens e de propriedades, administrando-as enquanto os seus maridos iam à guerra, que transmitiam a tradição oral da sua gente, que eram depositárias de lendas, que praticavam medicina com os parcos meios existentes, dando à luz e educando os futuros guerreiros e mandantes do seu povo?
Onde estão essas mulheres que de forma activa estiveram em campanhas ao lado dos maridos, ou lutavam no lugar deles quando estes tinham que combater noutro qualquer lugar?
O que fizeram com a memória das mulheres que na Europa, há séculos atrás, falavam Latim, conheciam Filosofia, Teologia e ainda davam cursos publicos de retórica?
Apenas Joana D'Arc se auto-perpétuou ao morrer queimada numa fogueira inquisitorial.
As outras que são faladas, apenas o são como esposas dos seus famosos maridos.
Terão ficado no esquecimento histórico, porquê?
Não terão os homens sido capazes de ceder às mulheres o seu devido e justo lugar?
Sob a força das suas necessidades e anseios, a mulher, foi em busca de trabalho e realização pessoal além do ser "doméstica" que tudo indicava, lhe cabia por destinação.
Compreendeu então que era mão de obra desqualificada e saiu para se preparar culturalmente e assim poder lutar com outras armas pelo seu novo lugar na sociedade.
E conseguio-o!
O inimaginável até então, aconteceu.
Frases como :
-"Mulher minha, a trabalhar"? ou
- "A mulher não trabalha fora de casa", ditas com alguma arrogância e até uma certa satisfação, deixaram pogressivamente de se ouvir.
Mudam-se os tempos? Mudam-se as vontades?
Hoje a situação inverteu-se de tal modo que, a quem fica "só" em casa, se olha com um certo ar critico-social, como se ser mãe/mulher não seja por si só uma função superior.
As questões humanas são complexas sobretudo quando se trata de costumes, sentimentos, legados familiares emocionais e conceptuais.
Impossivel ficar indiferente perante esse grupo enorme de mulheres com parcos haveres materiais mas a quem resta o maior tesouro das suas vidas, os seus filhos, pelos quais renunciam a tanta coisa, passam até fome, gerem como as melhores gestoras o pouco que têm, quando têm, sobrando-lhes ainda para dar, carinho, amor, generosidade e quantas vezes lágrimas que não conseguem conter disfarçadas entre os sorrisos que amenizam as suas dores.
É para essas MULHERES anónimas da nossa sociedade passada, presente e futura que souberam, sabem e saberão lutar pelos seus ideais com esforço e determinação mudando o rumo que na História lhes estava aparentemente destinado, que vai a minha homenagem e admiração neste Dia Internacional da Mulher.